MANDOLATE
“Mandolate!”
Teodoro ouviu o apelido que não escutava há anos e tremeu: quem poderia chamá-lo assim, nesta hora tão séria e engravatada de sua vida? Tremeu ainda mais, quando percebeu que não tinha idéia de quem era aquele homenzarrão que, sorriso pronto, já o abraçava sem chance à fuga. Depois, ficou dando soquinhos no ombro tenso de Teodoro e confirmando aquela certeza de intimidade antiga. Mas quem seria, meu Deus, aquele homem?
“Elegante, hein, Mandolate! Bem de vida!...” – o homem seguia na intimidade e Teodoro se desesperava porque não conseguia a menor lembrança de quem podia ser. Enquanto isso, o outro já começava a recordar tempos antigos. – “Lembra as festas, Mandolate? Tu era fogo, mesmo! Chegava e a mulherada já se ouriçava toda!...” – Não era bem assim, pensava Teodoro, mas não era a hora de discordar do novo amigo, tão simpático. – “Tu era a alegria da festa. E acabava namorando todas. Com aquela lábia!... Velho Mandolate! Sabia tudo de mulher!...” – Também não era tanto assim, mas Teodoro seguia concordando, tentando localizar o homem em sua memória. – “Vou te dizer uma coisa, Mandolate: toda a turma tinha inveja de ti!”
“Nã...” – protestou Teodoro, surpreso: não sabia que era isso tudo.
“Verdade. Tu era o cara que todo mundo queria ser e não conseguia! O nosso mito!” – e o homem parecia emocionado ao dizer isso.
“Não era tanto...” – comentou Teodoro, modesto.
Depois de uma parada em que nenhum deles soube o que dizer (a emoção), o homem quis seguir assunto:
“E a dona Justina, como vai?”
“Dona Justina?”
“Tua mãe, Mandolate!” – o outro relembrou, carinhoso.
“Mas minha mãe se chama Elisabete.” – respondeu Teodoro.
“Mas tu não é o Mandolate? O Carlos Roberto?”- o outro, surpreso.
“Me chamavam de Mandolate, mas meu nome é Teodoro.”
O homem pareceu murchar.
“Ah, desculpe, senhor. É que eu lhe achei muito parecido com um amigo meu, que não vejo há muito tempo.” – depois de um instante, continuou – “Mas pensando bem, o outro Mandolate era bem menos sério.”
E foi-se embora, envergonhado da confusão. Teodoro, este apenas conseguiu ficar ali, parado onde estava, acabrunhado, pensando o quão interessante deveria ser este Mandolate que ele gostaria de ter sido e nunca foi.
Outros Contos
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