SINA
“Mestre, quero beber.” – a voz era urgente, autoritária.
Quando o dono do bar levantou os olhos da revista, já havia percebido a presença da mulher - o ar levara até ele o cheiro adocicado do perfume. O homem sorriu com algum carinho e perguntou, complacente.
“O de sempre, Princesa?”
A mulher assentiu com a cabeça, sem dizer palavra. Só então descansou, talvez por ter a certeza de que ali ficaria, agora, bebendo a noite. Largou a bolsa no balcão de fórmica e sentou-se no desajeitado banco giratório. Parecia não pensar em nada, olhando o longe, mas prestava atenção ao dono do bar.
“Bem servido, Mestre.”
Com um gesto, o homem indicou que esperasse e não se preocupasse; sabia como servi-la. Depois virou-se e veio trazendo o copo com cuidado, líquido quase transbordando. Depositou-o em frente à mulher, que seguia com os olhos toda a operação.
Ela levou o copo vagarosamente à boca, para que nenhuma gota se perdesse. Tomou um gole que prolongou-se até sentir a segurança do copo mais vazio. Aí, depositou-o novamente, quase com alívio, no balcão. Engoliu o vermute de olhos fechados, fazendo uma careta de satisfação, lábios esticados num quase-sorriso bêbado e olhos apertados em olheiras. Depois voltou a enxergar e olhou o dono do bar. Um homem, pensou – e um esgar desgostoso lhe atravessou o rosto, imediato.
“Noite ruim hoje, não é?” – o Mestre já a conhecia bem.
A mulher disse que sim, de cabeça baixa. Depois completou:
“Tem sido assim, nos últimos tempos.”
O dono do bar disse que entendia. Afastou-se da mulher, em direção à revista e às coisinhas que ainda tinha a fazer naquele início de madrugada. Antes de voltar os olhos para a reportagem que lia até ainda há pouco, ele avisou, sério em sua compreensão.
“Bebe quieta.”
Ela concordou, mansa.
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