DEZOITO ANDARES
Já está tudo planejado e decidido. Renan pensa nisso mais uma vez, enquanto pede à ascensorista que aperte o botão do décimo-oitavo andar. Irá conversar com Larissa, pedir-lhe que reconsidere a besteira de largá-lo, prometerá ser o melhor parceiro e o melhor homem do mundo, se for necessário irá ajoelhar-se em frente à ela pedindo desculpas por coisas que nem sabe que fez - enfim, vai humilhar-se tentando a volta da mulher da sua vida. Se o preço do perdão de Larissa for a necessidade de um breve fiasco, tudo bem – é um preço baixo. Mas se, depois de tudo isso, ela continuar firme nesta idéia besta de não querê-lo mais de volta, então não restará a Renan nada a não ser a alternativa extrema: irá atirar-se da janela do décimo-oitavo andar. Por duas razões: primeiro, porque a vida não vale a pena sem Larissa; segundo, para que ela tenha que guardar para sempre esta culpa em seu coração. Ele ri, maquiavélico, enquanto o elevador sobe o seu caminho.
Tudo decidido, tudo planejado – não há como e nem porquê voltar atrás.
Quando entra no enorme escritório de Larissa, a secretária pede a ele que aguarde um instantinho, vai anunciá-lo à doutora. Renan senta numa das poltronas da recepção e olha para baixo, através das paredes luxuosas de vidro do prédio. Tem uma vertigem estranha: não pensou que estes dezoito andares fossem assim tão altos.
“A doutora Larissa diz que sente muito, mas não vai poder atendê-lo hoje.” – a secretária volta, sorriso constrangido.
“Dois minutinhos só.” – ele pede - suplica -, ainda olhando para baixo: quer esgotar a chance, não quer deixar-se pular assim tão facilmente. Porque é muito alto.
A secretária volta à sala da chefe, enquanto Renan retoma o olhar da parede de vidro. Está tonto com esta altura. Sempre tivera a impressão que isso tudo fosse mais baixo.
“Infelizmente, a doutora Larissa não vai poder falar com o senhor hoje. Mandou dizer que está mesmo muito ocupada.” – a secretária, de volta.
As pernas de Renan tremem e ele pensa naquilo que já havia decidido: passar agora correndo pela moça, invadir o escritório de Larissa, beijá-la com a força do desespero, correr para a janela e saltar. Saltar o último salto.
Mas olha ainda outra vez para os dezoito andares que se estendem até lá embaixo e a vertigem se renova.
Nenhuma mulher vale este salto, ele pensa – e, em silêncio, começa a andar em direção ao elevador.
Outros Contos
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