O SENTIDO DA VIDA
Eram já duas e meia da manhã, o bar estava mais para fechar do que para qualquer outra coisa, meia dúzia de mesas se preparando para ir embora, quando o homem que bebia cerveja sozinho (havia um castelo de garrafas em sua mesa) resolveu perguntar, um pouco para a parede, um pouco para qualquer um que lhe desse qualquer atenção:
- Alguém sabe o sentido da vida?
Talvez porque ninguém houvesse escutado bem aquela pergunta dirigida ao ar, talvez porque os gatos pingados que ainda estavam por ali também já estivessem entupidos de cerveja e pouco atinassem a respostas maiores, o fato é que ninguém respondeu nada.
Mas o homem não se deu por vencido.
- Alguém aí sabe me dizer o sentido da vida? – ele repetiu a pergunta, mais alto do que a primeira vez. À esta altura da vida e da noite, ele queria uma resposta.
No princípio ninguém respondeu, um ou outro riu da pergunta. Duas e meia da madrugada e dentro de um boteco - não é hora de pensar em coisas sérias.
Mas daí a pouco, como se tivesse pensado por algum tempo, a resposta veio do outro lado do bar, atravessando a sala no mesmo volume decidido da pergunta:
- Eu sei o sentido da vida! – e a voz da resposta era tão embriagada quanto a da pergunta. Depois, como se estivesse esperando o silêncio de todos – Mas não quero contar...
O primeiro bêbado levantou-se e conseguiu chegar, cambaleando, à mesa onde estava, acompanhado de outros dois que já não diziam mais nada, o homem que sabia o sentido da vida.
- Conta aí o sentido da vida, meu!
- Não conto. – respondeu o outro, decidido. – Só se pagar uma cerveja.
O primeiro bêbado sentou-se com certo espalhafato:
- Garçom! Mais uma cerveja aqui na mesa!
- Duas! – corrigiu o outro bêbado.
Duas e meia da manhã e aqueles dois gambás começavam uma nova discussão, enquanto o garçom levava as duas cervejas com as quais a mesa se distrairia pela próxima meia hora. Depois, certamente, pediriam outras, em busca do sentido da vida. E eu que só queria saber a hora em que vou chegar em casa, pensou o garçom.
Outros Contos
|