MULHER GRÁVIDA
À minha frente, a mulher, grávida, fumando. A barriga, redonda e bela, deixa evidente que em pouco tempo haverá outro bebê neste mundo já tão cheio de gente. Mas fuma, a mulher grávida? – eu, indignado. E resolvo me intrometer, em favor da criança.
“Moça, a senhora está grávida. Não devia fumar.”
Ela olha para o cigarro aceso, em espirais mal formadas de fumaça: depois, olha para ela mesma, como a certificar-se de que eu realmente falava consigo, como se houvesse na pracinha outra mulher grávida.
“E o que é que o senhor tem a ver com isso?” – ela me chama assim, respeitosa; tem o cuidado de não me chamar de velho – o que eu sou, talvez meio século a mais que esta moça que traga o cigarro novamente, agora de modo provocador.
“Na verdade, nada.” – digo eu. “Nem conheço a senhora. Só acho que pode ser ruim para a criança que vai nascer.” – e aponto o bebê.
“Não se meta na minha vida.” – ela ordena, fria.
“Desculpe, é que eu...”
“O filho é meu e eu cuido dele do jeito que quiser.”
“Claro, eu só queria...”
Nesse momento, vindo de trás de mim (eu não o vira se aproximando), chega um rapaz grande e loiro, que me fixa com os mesmos olhos frios da mulher.
“Algum problema, amor?” – ele faz a pergunta ainda olhando para mim.
“Nada, não. Só este velho que me pediu informação.” – e me encara, sorrindo; um sorriso que fuzila.
Velho.
É isso mesmo o que eu sou. Um velho solitário. Velhos e suas manias de se meterem onde não são chamados.
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