RETRATO PARA A MÃE
O homem entrou no estúdio fotográfico e ficou parado, sem dizer nada. Talvez estivesse apenas esperando que Julio o atendesse, mas mais parecia - as roupas tão humildes e o olhar de quem pede desculpas por nada - que não sabia mesmo o que falar.
“Bom dia. O que é que vai ser para o senhor?” – perguntou o fotógrafo.
O homem corou à pergunta, como se não pudesse ser para ele. Depois, no entanto, sorriu com timidez.
“Eu queria tirar um retrato. É para mandar para a minha mãe.”
“Claro.” – e ambos esperaram a palavra um do outro - que não veio. Até que Julio disse ao homem que passasse ao estúdio, que já iriam tirar a fotografia.
À hora da foto, o homem postou-se frente à câmara com a compostura solene dos grandes momentos (era). Julio pediu-lhe que sorrisse e ele achou melhor não.
“Minha mãe é muito séria. Não vai achar bonito ver o filho sorrindo por nada.” – depois agregou, com certa vergonha – “Faz cinco anos que não vejo minha mãe. Desde que vim para cá.” – e a Julio, naquela hora, pareceu que o homem se emocionava, saudade entrevista naquele olhar de solidão. Depois, não se mexeu mais; é possível que não quisesse atrapalhar a atenção do fotógrafo.
Quando as fotografias ficaram prontas, o homem escolheu duas delas, as que considerava mais bonitas. No verso das duas, escreveu com dificuldade, desenhando as letras: “Maê, amor, juradir”. Da pastinha puída que carregava, retirou um envelope pardo e, com cuidado, colocou neles os dois retratos.
“Vou mandar as fotos para a minha mãe. Ela vai ficar feliz de me ver de novo.” – ele sorriu, sempre tímido.
Então, ficou uns instantes sem saber o que fazer, o olhar baixo; parecia tomar coragem para uma decisão grande. Quando levantou os olhos, rosto em fogo, já tinha a decisão tomada. Tirou da carteira um papelzinho roto e manchado – o endereço da mãe – e estendeu-o ao fotógrafo.
“O senhor não me faz o favor de escrever estas palavras no envelope?”
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