CIRCO
Maravilhados com a faina e as novidades, os moleques da cidadezinha acompanham cheios de expectativa o levantar da lona octogonal e colorida, movendo-se entre as jaulas e carroças como pequenos raios terreais e aparecendo, solitários ou em bandos de algazarra, nos caminhos do trabalho. Move-os mais a curiosidade do que qualquer outra expectativa, porque nenhum deles assistiu a um circo de verdade; um ou outro talvez já tenha visto alguma foto colorida nas páginas de qualquer revista e segue procurando com olhos desejosos o mesmo elefante que, na fotografia, equilibrava-se pacientemente sobre uma enorme bola vermelha; outro talvez tenha escutado de um primo da cidade grande ou de algum tio em viagem sobre as maravilhas das acrobacias e os saltos dos tigres d e dentes de sabre, cujo rugido quase desequilibrava as grades das jaulas que, precária e assustadoramente, os aprisionava. Mas a maioria - quase todos - não sabe direito o que é um circo.
Por isso, tudo é esta novidade que a garotada bebe com sede voraz e bonita, encantando-se com os animais que dormitam e fedem tranquilos em suas carroças, tentando imitar os movimentos precisos do ensaio do mágico, rindo das palhaçadas ainda inexistentes do palhaço, assustando-se enfeitiçados pelo cheiro de sândalo que exala da cigana vidente e intrigando-se com a figura triste da mulher barbada.
É lindo e simples. Em todos os fundões onde o circo costuma se apresentar, existem estes meninos, que movem a história circense com sua alegria e curiosidade.
O dono do circo sabe disso: em todas as cidadezinhas, reserva meia dúzia de ingressos aos que mais rapidamente consigam distribuir suas propagandas pela cidade – e as dezenas de meninos saem álacres com seus papeizinhos na mão.
''Entradas grátis para os seis primeiros que distribuírem estas propagandas!"- e é um enxame feliz que sai correndo em todas as direções com suas bicicletinhas, voando o ar em busca da alegria de assistir o espetáculo sem gastar o dinheirinho que geralmente não tem.
E ainda sem se dar conta, nesta sua corrida espaventada, que a infância é um lugar tão bom de morar. Só farão isso anos mais tarde.
Outros Contos
|