SÓ UM CAFÉ
Só um café, ela havia lhe dito. Este era o tempo que teriam para conversar.
Ele lembra bem deste limite enquanto a espera, nervoso e angustiado, mãos úmidas num dia sem calor, neste bistrô em que não costumam ir. Escolheu o lugar justamente porque não o frequentam: não há os vícios dos ares antigos a atrapalhá-lo enquanto fala e terá menos vergonha se desabar frente a desconhecidos.
Só o tempo de um café, ela dissera. Neste tempo, pensa ele, precisará dizer tudo o que ensaiou em casa, ainda ontem, um pouco antes de ligar e dizer a ela que precisavam conversar. Não, confessa: de pedir a ela para conversarem. Neste tempo – o tempo de um café – terá que conseguir pedir o perdão necessário, dizer o quanto foi estúpido e continua sendo, e o quanto não quer mais ser. E terá que ser mais do que convincente – ser convincente não bastará. Também precisará dizer, a voz tão firme quanto possível, que ela é a mulher da sua vida e que ele não repetirá as besteiras que sua estupidez o faz fazer. Tudo rápido, tudo no tempo certo – tudo no tempo de um café. Nestes minutos que ela lhe conceder, ainda precisará encontrar o jeito de lembrá-la do quanto haviam sido felizes, do início em que ele fora inteiro uma flor doce de sensibilidades e o quanto estaria pronto para voltar a este início. Precisará lembrá-la destes primeiros tempos de leveza, mas antes precisará lembrar a si mesmo – tanto tempo de distância, de silêncios sem paciência, de frieza sem motivo, de dias sem sorrisos – e por quê, dá-se conta agora, por quê?
E então precisará pedir que ela lhe dê outra chance. Que volte.
Mas quando ela chega e pede um café rápido ao garçom, sem olhá-lo nos olhos e parecendo pronta e desejosa de ir embora o quanto antes, ele sabe que não haverá tempo para nada.
Será só o tempo de um café.
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