DESAMOR

E então chega a hora em que se percebe que já não existe o amor.

É num instante.

De repente, quem sabe, estão ambos tomando o café da manhã, silêncio que já nem é mais incômodo, e um dos dois pergunta para si mesmo: por quê? Caminham lado a lado, sem perceber que já não andam de mãos dadas, e em certo momento ele ou ela olhará para o lado e, num estranhamento um pouco cansado, irá se dar conta de que já não vale a pena. Olham o noticiário das oito sem comentar as manchetes do dia, não porque um saiba o que o outro pensa ou quer pensar, mas porque isso já pouco importa – e ele ou ela entenderá nesta hora que entre os dois não há mais nada. Ou então ele estará falando sobre os novos projetos, os problemas da fábrica, e ela não escutará nada enquanto o olha como se nenhum dos dois estivesse mesmo ali e, naquela hora, se perguntará: para quê?

Foi isso o que aconteceu a Monica, hoje à noite. Eduardo falava e falava, contava algo que realmente ela não ouvia, e de repente ela percebeu que não o amava mais. Assim, simples. Assim, dolorido. Não sabia, naquela hora, onde haviam ido parar os anos todos de paixão e amizade e companheirismo – sabia, sim, que estavam em algum lugar confortável e imorredouro de seu coração, e que mais tarde certamente iria reencontrá-los. Mas naquela hora, só o que sabia era isso: não amava mais Eduardo.

E a solidão tão triste que vem com esta certeza!

Porque já não poderão ficar juntos, ela sabe. Não é justo nem com ele, nem com ela. De que modo seguir compartindo vida com alguém que se amou e que não se ama mais? Qual a razão de seguir remoendo esta melancolia nova, enquanto engana o companheiro de tanto tempo, que provavelmente segue sendo o homem encantador que sempre foi, mas que comete o pecado de não mais ser amado por ela? Onde, a justiça?

E quanta tristeza guardada neste instante.

Eu não amo mais o Eduardo, pensa Monica, lágrimas mudas e repentinas nos olhos.

Ele fala, fala, fala. E enquanto ele fala, conta de seus planos e sorri, ela só consegue se perguntar, meu Deus, por que este desamor aconteceu.


Outros Contos


PROMESSAS DE ANO NOVO

PAIXÃO DE CARNAVAL

O DISCURSO

VIZINHAS

REPOLHOS SÃO MAIS DO QUE ISSO

SÃO LOURENÇO

LADY MADONNA

ANDANDO NA CHUVA

O ENDEREÇO

WALDISNEY II

O DIA DO PAI

É SÓ UMA ROSA?

O COLEÓPTERO TERROSO POUSOU NA RUBIÁCEA

O VENDEDOR DE PEDRAS

AINDA GILDA

O VELHO ATOR

A PERGUNTA A NÃO SER FEITA

A SUPER LUA

O CHEFE

ASFIXIA

 

 

 
 

 


Prêmio que agraciou Henrique Schneider é um dos principais concursos do Brasil


Entrevista: o processo de criação de Setenta


Henrique Schneider palestra no Festival Literário dos Campos Gerais