DEFICIÊNCIA
Estou saindo do banco, onde fui retirar os minguados caraminguás de minha aposentadoria, quando vejo o carro estacionando na vaga destinada aos deficientes físicos. Dele sai uma mulher, falando o telefone. É bonita, ar confiante; terá, quando muito, quarenta anos. Desliga o aparelho e espero que vá até o outro lado do veículo para auxiliar a pessoa que necessita de cuidados especiais e que, certamente, estará no banco do caroneiro. Mas não há ninguém, e a mulher se dirige ao banco.
“Moça.” – digo eu, com suavidade. – “Esta vaga é para deficientes físicos.”
Ela me olha com certa surpresa.
“Mas não tinha ninguém estacionado aqui.”
O argumento, penso eu. O argumento!
“Mesmo assim, moça. A vaga é para deficientes físicos.”
Ela deve estar se perguntando quem é este imbecil à sua frente, enquanto me responde, num resfolegar de pouca paciência:
“Só vou entregar um documento no banco. É um minutinho.”
Eu, então, aponto para a enormidade de carros ao redor.
“Se cada carro que estiver por aqui ocupar a vaga por um minutinho, ela vai estar sempre ocupada.”
Ela, então, sacode os braços e olha o relógio, num gesto de paciência esgotada.
“Olha aqui, meu senhor. O senhor se meta com a sua vida e não com a vida dos outros! Eu vou entregar o documento no banco agora! E vou deixar o carro estacionado onde eu quiser e pronto! O carro é meu e estaciono ele onde eu bem entender!”
E ela entra no banco, seus passos um peso só. Nem olha para trás.
Mulher idiota, penso eu. Mas deficiência de caráter não é deficiência, penso também.
E saio a procurar um guarda de trânsito para que a multe.
Outros Contos
|