CARTA A FRAN
Fran, não nos conhecemos. Nem sei se és Francine ou Francisca, Franciele ou Francineide. Sei que me agrada teu apelido - Fran. Também não sei como te pareces, se és branca ou negra, gorda ou magra, alta ou baixa, bela ou feia (não, isso eu sei: és bela, sim). Não sei se és simpática ou rabujenta, mas pouco importa. E não sei como és por uma razão simples: não assisti o vídeo em que apareces fazendo amor com aquele homem que, então, era teu namorado. E que só virou assunto porque ele, quando provavelmente levou um merecido pé-na-bunda, colocou o vídeo nas redes sociais.
Milhares de pessoas assistiram o vídeo. Viram teu ex-namorado e tu fazendo o que provavelmente estas milhares de pessoas também fazem, mas ainda assim lotaram as mídias com comentários escarnecedores, porque há uns pobres que pensam que a internet é terra de ninguém e que tudo se pode. Te xingaram com todas as ofensas, Fran.
E isso, eu sei, te levou a uma enorme vergonha.
Mas acho que tua única vergonha é ter, em certo momento, escolhido um bocó como namorado. Porque vergonha deveria ter ele, Fran. E vergonha deveriam ter as milhares de pessoas que, sem nada de melhor para fazer em suas vidas, assistiram o teu vídeo e decidiram que tua intimidade lhes servia como brincadeira. Estas pessoas que postaram comentários infames, esquecidas de que suas namoradas ou namorados fazem o mesmo – e bom que façam, ruim seria se não fizessem. O problema, Fran, não está no vídeo; está na vileza dos comentários sobre ele. Que moralzinha chinfrim, esta!
E só falam de ti, os xingamentos. Teu ex-namorado, o pobre coitado que provavelmente aparece no vídeo tanto quanto tu, passa incólume pelos mesmos. Provavelmente tenha até se gabado durante algum tempo, o bobalhão, rindo das postagens que colocam em ti a culpa pelo fato de o vídeo estar em todos os lugares. Mais uma vagabundinha que se deixou filmar, é o que dizem. O mesmo pensamento medieval que acha que mulher vestindo minissaia quer ser atacada. Os pobres.
E aí, a cada vez que sais à rua, pensas que estão todos te olhando, apontando o dedo, te acusando – e de quê, Fran, de quê?
Mas que saibas que também há milhares de pessoas te dando apoio. E que com elas sigas em frente. Que percebas também os olhares bons que cercam teus 19 anos. Volta para as ruas, para as incertezas e vitórias, tristezas e alegrias, tombos e cores, o comum, a vida.
Só vê se escolhe melhor o teu próximo namorado.
Outros Contos
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