AS COISAS COMO ELAS SÃO
Antonio me ligou, a voz numa ansiedade só, e disse que precisava falar comigo com urgência. Meia hora depois, eu o esperava num café próximo à minha casa.
Ele entrou, sentou-se com certo peso derrotado e foi logo pedindo um uísque – e ainda não eram quatro da tarde.
“Estou me separando de Luciana. As coisas não dão mais certo entre nós.” – desabafou.
Eu achava que poderia ser mesmo este o assunto. Conheço-os bem e há anos; percebo que, nos últimos tempos, andam ambos diferentes. Esquivos, os assuntos raros, os silêncios incômodos, as tristezas sem nome.
“E acho que ela tem outra pessoa.” – confessou ele, depois de uns segundos de indecisão.
“Como assim?” – me surpreendi.
“Não sei bem, mas tenho quase certeza que sim. Seguido ela chega mais tarde em casa ou sai sem grandes motivos, dá uma desculpa qualquer – compras, trabalho, a conversa com alguma colega...”
“Mas tens alguma desconfiança? Sabes quem pode ser?” – perguntei.
“Queres saber se eu a segui, alguma vez? Não.” – me respondeu ele. Depois adendou, desolado – “Eu não conseguiria.”
Já disse que somos amigos há anos. Assim, consolei-o por algum tempo, escutando-o e respondendo algumas frases feitas, enquanto ele tomava outro uísque. Depois perguntei se daria para repensar, voltar atrás.
Ele pensou um pouco, e então respondeu que não. Doída, a voz de Antonio. Doída e engrolada. Depois, pedindo mais um uísque, perguntou se não poderia ficar na minha casa por alguns dias.
“Só até eu me organizar.” – completou ele.
Claro, respondi. Há um quarto vago em meu apartamento e não há como deixar sem amparo um amigo de tantos anos.
Além disso, Luciana e eu podemos nos encontrar em outro lugar por algum tempo.
Outros Contos
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