O SORRISO DO REI MOMO
Uma festa só, a avenida, festa essa que começou lá pelas oito e meia da noite e se estenderá até que o sol esteja claro e pleno no céu – mas festa que, na verdade, iniciou muito antes e ninguém sabe bem ao certo quando irá acabar (e pouco importa). A música, os tambores, os gritos, as cores, a dança - tudo é harmonia nestes dias de folguedos.
O maior sorriso é o do Rei Momo.
É ele quem conduz a alegria nestes dias quentes em que reina sobre a cidade. Se é ele o rei, pensa, deve ser também o mais alegre - o rei da alegria.
E samba com mais leveza do que os seus cem quilos permitem. Nos outros dias do ano, talvez este peso lhe arraste os pés, e que uma caminhada seja às vezes sacrifício. Mas nestes dias do Carnaval, não: os cem quilos não existem, e, embaixo da coroa de lata e papel brilhante, enchendo a fantasia de sol e suor, o Rei Momo manda suavemente na alegria.
O povo percebe a imensidão do seu sorriso.
Ele recebe as escolas com a simpatia de um vendedor de carnês, acolhendo-as em seu reino de quatro dias, e a avenida vibra com seus passos bem ensaiados, a elegância de sua dança, a leveza de seus movimentos, o sorriso maior que a avenida.
Toda a cidade sorri junto com o seu sorriso.
Ah, o sorriso do Rei Momo – todos percebem. Mas ninguém sabe a dificuldade de mantê-lo. O quanto ele sofre para mantê-lo
Só ele mesmo.
Ele e, talvez, a Rainha do Carnaval – esta morena linda com quem samba de mãos dadas, mas que faz questão de demonstrar que nem sabe que ele existe, e por quem está desesperadamente apaixonado desde a primeira vez que a viu.
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