DIA DOS NAMORADOS

Marienne me diz há tempos que sou previsível, que a nossa relação está transformada numa água morna e insossa – a frase é dela. Que nossos sábados estão transformados em pizza e filme alugado (mas que mal há nisso? - penso eu) e que, se filme e pizza podem ser algo bacana de vez em quando, o fato é que são morte lenta para um casal se isso se repetir todos os finais de semana – a explicação também é dela. Que nos falta carinho. Paixão, isso é o que nos falta, reclamou ela, sem que eu conseguisse entender bem a razão daquela reclamação – afinal, não assistimos os filmes bem abraçadinhos, até dormir? Paixão, ela repetiu.

Estou cansada, falou Marienne, os olhos num desânimo – e de novo não entendi bem o que ela quis dizer. E também me repetiu que estava cansada.

É por isso que hoje preparei esta surpresa para ela. Fingi que não lembrava do Dia dos Namorados, ela me enchendo de indiretas e eu ali, nem dando bola, fazendo de conta que não era comigo – mas tendo umas ideias, claro. Sei que ela ficou triste, dava pra ver, mas achei melhor não dar nenhuma pista, para não estragar a surpresa.

Não dei bandeira nem quando ela disse que precisava repensar a vida – porque, quando ela visse o que eu havia preparado, todas estas maluquices dela iam evaporar, eu sei.

E agora estou aqui, em frente à casa de Marienne, pronto para que ela me perceba daqui em diante como o homem apaixonado e ardente que verdadeiramente sou. Carrego o presente que comprei na melhor loja de roupas da cidade e, ao meu lado, está o cozinheiro que contratei para preparar-nos um jantar que Marienne com certeza vai achar inesquecível e eu, claro, também vou comer com gosto, embora preferisse uma pizza. O cozinheiro vai preparar uma lagosta com um molho que nem sei o nome, acompanhada de uns troços que me custaram os olhos da cara e depois, de sobremesa, vamos comer morangos com creme. (Uma fortuna, os morangos nesta época!)

Aí, sim, Marienne vai parar com estas bobagens de que está tudo uma água morna, que isso e aquilo, e que precisa repensar e sei lá o quê.

Mas por que ela não atende a campainha?


Outros Contos


E AGORA ELE DISSE QUE VAI FICAR COM ELA

MAX, QUE TRATA BEM AS PALAVRAS

O SOL FRIO

O CONSUMO

A MÁQUINA

AQUELE CLIMA DE INDECISÃO

BARBARA ANTHONY

DESAMOR

(NA IMAGINAÇÃO)

QUINZE ANOS

PÁSCOA

PAIXÃO DE CARNAVAL

A IMAGEM QUE O ESPELHO ME DEVOLVE

PROCURANDO GILSON

MÃOS DADAS

OS NAMORADOS

BETÂNIA EM SEUS SONHOS

LIXO

O AMULETO

O HORROR

 

 

 
 

 


Prêmio que agraciou Henrique Schneider é um dos principais concursos do Brasil


Entrevista: o processo de criação de Setenta


Henrique Schneider palestra no Festival Literário dos Campos Gerais