PROCURANDO GILSON
O carro escuro para em frente à casa e um rosto mal barbeado surge dentro dele, enquanto o vidro fumê da janela baixa lentamente:
“Amigo! Sabe onde mora o Gilson?”
O homem está tomando um chimarrão sozinho na área de sua casa e não pode deixar de se intrigar com este carro desconhecido, nem com a expressão sombria do rosto do motorista.
“Gilson...Gilson... De nome não conheço. Como ele é, o senhor não sabe?”
´É um alemão baixinho e feio.”
“Alemão baixinho e feio é o que mais tem por aqui, moço.” – ele brinca, mas o outro não ri.
“Baixinho, feio e manca de uma perna.” – completa o homem do carro.
“Ah, bom.” – ele pensa – “Tem um Gilson que mora aqui na vila, mas é mais pro outro lado. Entrando pela outra avenida é mais fácil. É meio longe. Dá umas dez, doze quadras daqui, numa casa amarela.” – depois, sem saber por que – “Mas e o amigo precisa o quê com o Gilson?”
“Acertar umas contas com ele.” – diz o outro.
“Pagar ou receber?” – ele ri, tenta fazer piada com a pergunta. De novo, o homem do carro não ri.
“Receber.” – responde ele, lacônico. Depois, confirma: - “Entrando pela outra avenida, dez ou doze quadras, uma casa amarela. É isso?”
“Isso mesmo. Decorou direitinho.”
“O amigo é muito engraçado.” – diz o homem do carro – “Isso nem sempre é bom pra saúde.” – e arranca o automóvel, cantando os pneus, em direção à avenida.
Ele volta para a área, as pernas ainda tremendo, e mal consegue segurar novamente a cuia do chimarrão. Reconhecera o homem do carro desde o início e mal tivera o tino de inventar aquela casa amarela, as dez ou doze quadras, distância possível de confundir-se, de perder-se. Tomara houvesse algum Gilson por aquelas bandas – de preferência, alto e moreno, bem diferente da descrição.
E o Gilson Manco, ah, o Gilson Manco lhe devia essa!...
Outros Contos
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