RODAR, RODAR
Ele entra no táxi e pede ao motorista que rode.
O taxista o olha desconfiado – tantos assaltos, tantos loucos. Mas, ao mesmo tempo, o passageiro não lhe causa qualquer medo e sua expressão é tão distante e angustiada que o motorista apenas resolve ligar o carro.
O homem então estende uma nota de cinqüenta reais.
“Roda para este dinheiro aí. Mas anda só por lugares bonitos.” – ele pede. Depois complementa – “E não fala nada, por favor.”
“Ligo o rádio?” – pergunta o homem do táxi.
“Melhor não. Se puder. Estou precisando de silêncio.” – responde o passageiro.
“O senhor precisa de alguma coisa?”
“Não. Só de silêncio. E rodar.”
O táxi então começa a andar, os dois homens escutando apenas o barulho do motor e os barulhos entrantes da cidade. Vez por outra, o motorista olha furtivamente pelo espelho retrovisor, a observar o passageiro. O homem está com o rosto colado à janela, olha para fora como se nada mais houvesse, e em seus olhos o taxista parece perceber certa tristeza funda, dorida, lacrimosa e sem nome. Por que sofrerá o passageiro? – pergunta-se o motorista, um pouco condoído. Será esta angústia um amor impossível, paixão sem retorno, certa notícia ruim, qualquer morte, puro desamparo? Triste isso, pensa o taxista – enquanto o homem segue olhando sem olhar.
De repente, o passageiro pede:
“O senhor pare aqui, por favor, que eu vou descer.”
O motorista se surpreende. Estão em uma área meio distante da cidade, um ermo, zona de alguns campos e belos verdes – por isso viera para cá. Mas não para que o homem descesse neste lugar.
´É longe, meu amigo! Quem sabe eu não lhe deixo mais perto do centro?”
O olhar do homem segue sem palavras:
“Não, pode deixar. É aqui mesmo que eu vou descer.”
E desce. Sai caminhando em direção ao nada, como se não soubesse. Ou como se já soubesse.
Por Deus, pensa o taxista, o que irá fazer este homem?
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