EDUARDO, QUE ESPALHA ESTRELAS
Estou à janela, vendo o tempo passar, quando se aproxima aquele menino careca, um pouco desengonçado, sorrindo o seu sorriso largo de sessenta dentes e setenta e quatro anos. Nos braços, com algum esforço, carrega uma cesta de vime, daquelas que usamos em piqueniques em quadros de Paris, em filmes da Toscana ou quando viajamos para ver o mar pela primeira vez. Pergunto ao garoto o que ele carrega na cesta, e ele me responde como se fosse nada:
“Estrelas.”
Eu me surpreendo, claro. Moleques vendem doces, biscoitos, bergamotas. Mas estrelas?
“Eu não vendo estrela.” – esclarece ele – “Eu espalho. Distribuo. Dou de presente.”
Então me surpreendo ainda mais. Vender estrelas, algo assim tão valioso, até me pareceria possível. Mas dá-las de presente?
Ele abre levemente o cesto e dele sai certo brilho de fogo, fulgor de memória antiga, o cheiro bom do abraço. Depois o fecha, mas a cintilação segue firme e bela, clareando ainda mais o sol que entra em minha janela. Quero a estrela para mim, decido, e peço uma ao garoto.
Ele me estende uma pequena, escolhida como se buscasse um tesouro escondido. A estrelinha pulsa em sua mão, feito veias abertas.
“Toma.” – diz ele. – "E cuida bem dela. Estrelas são uma raridade.”
“Mas por que as distribuis?” – pergunto eu, curioso.
“Porque são mais fáceis de encontrar do que as utopias.” – ele me responde. E a resposta, sim, sim, faz sentido. Depois, completa: - “Eu sigo procurando a minha utopia.”
Fico com a pequena estrela na mão, pensando em que brilho do meu coração irei guardá-la.
E o moleque se afasta, sempre sorrindo, com suas palavras andantes. Segue em busca da utopia. Da sua própria e a de tantos outros. É uma busca difícil, ele sabe.
Enquanto isso, vai distribuindo estrelas.
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