O CHORO AO TELEFONE
São três e meia da manhã, percebo assustado à hora em que meu telefone celular toca, o tango ring tone como uma espécie de mau aviso: à esta altura da madrugada, só pode ser trote, engano ou notícia ruim. Tomara não seja notícia ruim, penso enquanto pego o aparelho.
Do outro lado, a voz felina e educada parece se assustar ao alô de som inesperado – no caso, o meu. Depois de um instante de hesitação, pede para falar com Rogério.
“É engano.” – digo eu, com certo alívio – “Não conheço nenhum Rogério.”
“Ah, desculpe!” – a voz se surpreende, e então (percebo) começa a chorar. Tanto precisava falar com este homem, que chora e sequer lembra de desligar o telefone. Por que este choro, indago a mim mesmo, já inteiramente acordado – talvez agora eu nem consiga dormir novamente. Por quê? Será este Rogério algum parente a quem tenha que ser dada uma notícia ruim e urgente? Será apenas um desequilíbrio, loucura pequena desta voz linda que chora delicadamente ao telefone? Será um advogado, médico, de cujos serviços alguém esteja precisando agora mesmo? Ou, o mais possível, será Rogério o amor em chamas e tristeza desta desconhecida que busca pedir ou ganhar desculpas e cuja ansiedade é tão grande que sequer consegue esperar a chegada da manhã? (Mas não! Se fosse isso, repenso, ela não erraria o número do telefone, Rogério não deve ser este amor.)
E então fico curioso por aquele choro. Por que ainda chora esta mulher, por que não desliga o telefone e me deixa voltar ao sono?
“Moça, por que este choro? Posso ajudar?” – pergunto.
Só então ela parece perceber o que acontece, e sinto que se envergonha um pouco do outro lado da linha.
“Ai, desculpe!” – ela exclama, em meio ao pranto miúdo, que subitamente estanca, tão linda aquela voz – “Desculpe eu ficar lhe atrapalhando a noite com meus problemas!...”
“Mas que problemas?” – pergunto eu, interessado (naqueles problemas, naquela pessoa, naquela voz).
“Nada, não...” – ela titubeia. – “O senhor não entenderia.” – e então desliga.
Fico olhando para o aparelho, o número desta desconhecida que me invadiu a noite assim tão de repente.
E decido ligar para ela. Preciso saber quais são estes problemas.
Outros Contos
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