A NOVA VIZINHA
Quando a nova vizinha chegou e se instalou na casa quase em frente à sua, Eduardo não lhe prestou maior atenção. À falta de melhor palavra, seria possível dizer que era uma mulher comum (como se existissem mulheres comuns!): medianamente bonita, discreta no vestir, silenciosa em seus modos. E mais Eduardo não poderia dizer, porque não haviam trocado palavra. Sequer o nome da nova vizinha ele sabia.
Mas sabia, isso sim, que ela era ruiva.
Há quase um mês, a mulher já estava morando no novo endereço, tempo suficiente para ele descobrir - mesmo sem grandes atenções – que vivia sozinha, sem sequer a companhia de algum gato ou cachorro. E neste tempo todo, quando por vezes se cruzavam pela rua, pareciam ficar ambos – Eduardo e a nova vizinha – sem saber se deveriam ou não se cumprimentar. E então, tímidos que eram (ela deve ser, pensava Eduardo), acabavam passando retos um pelo outro, sem dizer nada. Meio pedante, ela – decidia ele.
E assim andavam, cada qual em sua vida simples e anônima, até que Eduardo sonhou com a vizinha. Sonhou com aquela desconhecida, a quem nunca prestara maior atenção! E nem se pode dizer, na verdade, que tenha sonhado com ela; mais certo seria dizer que a vizinha apenas apareceu momentaneamente em seu sonho, tão silenciosa como sempre, e pegou na mão do incauto sonhador. Ficou assim apenas por uns segundos, sem sequer olhar para Eduardo, e depois se afastou (desapareceu?), deixando ao resto do sonho que acontecesse. Restou na mão de Eduardo o calor recém descoberto.
Quando acordou, tentou lembrar-se do sonho e não conseguiu.
Mas já era outro.
Desde então, sua vida é um desassossego. Espia pela janela para ver se consegue enxergar a vizinha, esfrega as mãos para não esquecer do calor, tenta encontrá-la novamente em seu sonho, atravessa a rua apenas para cruzar com ela em seu caminho sempre silencioso, bola de angústia na garganta a impedir-lhe as palavras.
Porque esta mulher a quem não prestava qualquer atenção, esta mulher de sonho breve, esta mulher de quem sequer sabe o nome – ai, Eduardo está inteiramente apaixonado por ela.
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