AS FLORES DO CAMPO
Aqui, nesta enorme faixa de terra, é que estava a plantação de flores do campo. Plantação, não, porque elas nascem por si só, como Deus manda, vindas do vento e do bico dos passarinhos, e vão crescendo sozinhas e ficando aquela beleza espalhada que os olhos não cansam nunca de ver. Enfim. Plantação ou não, milagre ou não, o fato é que as flores do campo iam e iam e iam, um pouco até onde o olhar alcançasse, mais amarelas do que de qualquer outra cor, e era tão bonito de se enxergar que, à falta de melhor palavra, deixava os mais sensíveis, por um instante, sem respiração. E lá no fundo deste sem fim de flores do campo, se divisava, pequeno e diverso, um capãozinho de mato.
Isso, até uns trinta dias atrás.
No mês passado, apareceu um exército de patrolas e retroescavadeiras, maquinário de toneladas que, com o peso de suas esteiras, esmigalhou todo o campo de flores que havia ali. Uma dor. O que era cor se transformou num revirado de terra e lama, tristeza alisada pelo peso das máquinas e homens.
Na verdade, deixaram um cantinho intacto. Mantiveram o matinho e uma espécie de filete magro de flores, bem lá no fundo, ao redor do qual colocaram uma espécie de cerca de vidro. Mas a verdade é que as flores e o capão de árvores, meio acuados e assustados naquele confinamento artificial em que os aprisionaram, parecem ter perdido a maior parte do seu encanto.
Ficou um enorme bloco de terra com um cantinho esquecido de flores tristes.
Ontem, chegaram novas máquinas e começaram a trabalhar.
A primeira coisa que fizeram foi colocar a placa, com o nome e a ilustração computadorizada e radiante do condomínio que vão construir aqui.
Chama-se “Residencial Flores do Campo”.
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