REENCONTRO
Eles se olharam no meio da festa, um pouco intrigados e algo indecisos, mas foi apenas por um instante: ainda que há vinte anos não se enxergassem, o fato é que havia certos traços, nela e nele, que nada haviam mudado. Haviam sido colegas na sétima série, não era? – perguntou ele. Acho que sim, ou na oitava – respondeu ela, rindo.
E então se abraçaram com a alegria dos bons reencontros e, enquanto conversavam aquelas amenidades que procuram assuntos, iam observando um ao outro e percebendo que o tempo, na verdade, havia sido generoso com ambos: tanto ela como ele, agora aos trinta e poucos anos, estavam bonitos.
“Tu não usa mais aparelho nos dentes.” – ele riu.
“E tu já não é mais tão desengonçado.” – riram os dois, e ele gostou do som daquele riso.
E a conversa começou a se adivinhar tão boa que eles resolveram sentar-se num dos sofás da sala, subitamente alheios ao resto da festa, enquanto renovavam os copos de vinho branco que o garçom, de quando em vez, vinha servir. Uma festa particular, apenas entre os dois, enquanto se redescobriam, se reconheciam. Dos doze, treze anos de ambos, tanta vida acontecera, histórias boas e ruins, risos e prantos – quando viram, alguns copos a mais de vinho e boas memórias compartidas, a noite já andava em direção ao final.
“Mas eu preciso te confessar uma coisa, antes de ir embora.” – ele riu outra vez, agora um pouco nervoso, e aguardou uns instantes antes de decidir continuar (o vinho). – “Tu nunca soube, mas eu era meio apaixonado por ti naquela época.”
Ela sorriu sem barulho, os olhos brilhantes, antes de responder:
“E tu nunca soube, porque era meio tonto, mas eu também era meio apaixonada por ti naquela época.”
Ele fez um gesto de quem não acreditava e riu alto; depois, ficaram um tempo brincando e comentando aquelas paixões adolescentes, os braços roçando vez por outra sem que percebessem, até que ele perguntou:
“E agora? Estás casada, solteira, namorando?”
“Solteira. Saí há pouco de um namoro de três anos. E tu?”
“Solteiro, também. Separei faz dois anos. Terminou.”
“Ah, que pena!” – comentou ela.
“Que pena!” – respondeu ele.
Mas ambos estavam sorrindo.
Outros Contos
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