MAX, QUE TRATA BEM AS PALAVRAS
Desde pequeno foi assim, Max. Sabendo o valor das palavras, o quanto importava serem ditas ou escritas, o quanto de silêncio ou barulho podia nelas existir. Tratando-as com a ponta dos dedos, cinzéis de apuro, a delicadeza laborada que elas merecem.
E então, porque o mal de tratar bem as palavras não tem cura, - que remédio! -, o Max decidiu ser escritor. Não que isso fosse qualquer garantia, porque alguns escritores mais maltratam as palavras do que qualquer outra coisa, mas não o Max, ele não. E, para que não ficasse sozinho nesta empreitada linda e difícil, buscou para a vida uma companheira que também fosse escritora. Bem diferentes, eles; e bem iguais.
E lá foram eles, andando nesta brincadeira séria de textos e frases, ourives ambos na lapidação dos livros e da vida. O Max inventando histórias com síndromes e quimeras, zigurates, homens vivendo tranqüilos com serpentes calmas enroladas no pescoço, aquelas coisas que só a imaginação de quem trata bem as palavras consegue enxergar, fantasia acontecendo aos olhos que querem vê-la.
Mas e então, nos últimos tempos, este malandro chamado Destino resolveu colocar o Max mais perto de umas palavras muito sérias, cheias de um gosto difícil e complicado, às quais ele não estava acostumado e nem queria se acostumar: quimioterapia, laboratório, radioterapia, cirurgia, exames. Em compensação, este mesmo Destino deixou-o ao lado de uma palavra bem engraçada: careca.
Ele ainda está se adequando a estas novas palavras que, de repente, apareceram em sua vida. Mas vai vencê-las, certamente, vai ultrapassá-las, deixá-las para trás.
E vai fazer isso escrevendo, tratando bem as palavras.
Porque ele mesmo já disse, certa vez, que há duas escolhas possíveis. Uma é não escrever e não viver. A outra é escrever e viver.
E ele escolheu escrever e viver.
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