O HOMEM NO BAR
O HOMEM NO BAR
“O senhor me veja um conhaque, por favor.”
Eliseu nem precisou levantar a cabeça para saber que se tratava de um desconhecido. Naquele bar de fim de mundo onde gastava seus dias servindo cachaça e matando moscas, só entravam os bêbados de sempre, que nunca lhe davam qualquer senhoria. Mas quando ergueu o olhar, não conseguiu evitar a surpresa: o homem à sua frente vestia terno e gravata, certa elegância antiga e um olhar tão triste como o de um cachorro que perdeu o dono. Tanta era sua distinção, que Eliseu sequer perguntou se haveria preferência pela marca do conhaque; serviu logo a melhor, dos poucos que tinha.
O homem sentou-se em silêncio numa das mesas do bar vazio e, enquanto bebericava sem vontade a bebida, apenas olhava para fora e, por vezes, suspirava. Na verdade, não olhava nada; seus olhos tristes pareciam vazios.
Até que, quase sem perceber, começou a chorar. Um choro em silêncio, sem estardalhaço, parecendo quase envergonhado; Eliseu só soube percebê-lo quando o homem se virou para pedir outro conhaque.
Quando foi servir a nova dose, o desconhecido pediu que já deixasse a garrafa na mesa – iria beber um pouco mais.
“Certo.” – concordou o dono do bar. Depois, como se não soubesse bem o que fazer, devolveu a deferência antes recebida – “Mas tudo bem com o senhor?”
“Tudo.” – respondeu o desconhecido. Depois, corrigiu-se – “Na verdade, não está. Mas vai passar.” – e voltou ao seu choro silencioso. Eliseu, também em silêncio, voltou ao balcão e às garrafas.
Depois de um tempo, o homem virou-se novamente, como se houvesse esquecido algo:
“Mas o senhor não se importa se eu chorar um pouco? Tem algum problema?”
Eliseu interrompeu por um instante o que não fazia: nunca lhe haviam feito uma pergunta daquelas.
“O senhor fique à vontade.” – respondeu, finalmente.
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