AUTO DE INFRAÇÃO
Recém havia feito a conversão com o carro em local proibido, para economizar poucos metros de pista e uns segundos bobos na vida, quando escutou o apito. Ai, Jesus, aí vem incomodação – pensou ele.
O guarda de trânsito aproximou-se com certa lentidão estudada, bloco de infrações na mão esquerda.
“Boa tarde.” – cumprimentou o policial, enquanto pedia os documentos do carro e do motorista. – “O senhor sabe que fez uma manobra proibida, não?”
“Tava com pressa...” – ele sorriu amarelo, enquanto estendia os documentos ao guarda.
“Mesmo assim. A lei também vale quando a pessoa está com pressa.”
“Pois é, seu policial. Mas nem me dei conta.” – depois, como se estivesse perguntando pelo tempo, o resultado do jogo. – “Será que a gente não podia resolver isso entre nós mesmos?”
“Entre nós mesmos?” – perguntou o guarda, brilho irônico no sorriso.
“Sim, o senhor sabe, entre nós... Sem precisar fazer a multa e coisa e tal...”
“Como assim, não precisar fazer a multa? E coisa e tal? ” – indagou novamente o policial.
“O senhor sabe, deve ter um outro jeito de acertar.”
“Um dinheirinho por fora, quer dizer?”
O motorista sorriu, brilho malicioso nos olhos. O peixe mordeu a isca, pensou.
“Eu não falei nada. O senhor quem está dizendo.”
“E quanto? Uns cinqüenta, cem, mil, cinco mil, dez mil?” – perguntou o guarda, sem que o outro reparasse na ironia da resposta.
“Uns cem, duzentos. Mais, fica difícil.” – respondeu o motorista.
“Dez mil. E uma estátua de mármore com meu nome gravado.” – falou o guarda.
“O senhor não está falando sério.” – replicou o motorista.
“Claro que não estou. E nem o senhor.” – treplicou o policial.
E começou a anotar a multa.
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