FORTE APACHE
Vicente arredou o tapete e armou o Forte Apache no chão da sala, a fim de que o piso marrom mais parecesse com o solo arenoso do Texas, algo assim. Estava numa alegria que só vendo, colocando cada pecinha em seu lugar e brincando consigo mesmo, enquanto Felipe, ao seu lado, mais observava do que efetivamente brincava: o fato é que Vicente, em sua excitação tamanha, quase não deixava espaço a Felipe para brincar. Mas não fazia mal: a felicidade de Vicente era tanta que isso já bastava para divertir Felipe.
As paliçadas, as torres de vigia, a casinha de mantimentos, a cantina, os alojamentos, os soldados, a carroça, a bandeira, os cavalos, o cachorro mascote – cada pecinha instalada era novo júbilo a Vicente.
“Aiôôôu, Silver!” – ele gritou, enquanto agitava no ar um cavalinho plástico malhado, infância inteira gritando a mil.
“Silver? Quem é Silver?” – perguntou Felipe.
“Silver, ora! Silver! O cavalo do Zorro!”
“Ah, bom...” – concordou Felipe. O Zorro, sim, ele conhecia.
Vicente pegava cada peça e com elas desenhava batalhas, cavalgadas, conversas imaginárias, a vida do Velho Oeste renascendo naquele instante em suas mãos. Felipe ao lado, sempre mais observando do que brincando – mas divertido com a animação do outro.
E então Vicente pegou o mascote de plástico, um pastor alemão com um lenço no pescoço, e bradou, enquanto sacudia o brinquedinho no ar:
“Aiôôôu, Ríntim”!
“Ué, mas não é ´aiôu, Silver?´” – perguntou Felipe.
´Ah, é verdade...” – titubeou Vicente – “Estou misturando os seriados. Mas o que vale é a brincadeira!” – e atirou o cachorro para o alto, gargalhando.
Felipe apenas sorriu outra vez e pensou que o avô não tinha mesmo jeito. E que, certamente, havia lhe dado aquele Forte Apache no dia da criança só para poder brincar também.
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