PAPAI NOEL NÃO GOSTA DE CROQUETE
Papai Noel entrou no boteco, depositou o saco de aniagem no banquinho em frente ao balcão de fórmica e, sob o olhar entre espantado e divertido dos bebuns de plantão, pediu uma cerveja e um croquete.
“A mais gelada!” – ordenou, com voz de poucos amigos. E depois, sacudindo o quanto dava a gola do casaco vermelho – “Calor do cacete! Tou suando como um cavalo!...”
O dono do bar serviu-lhe a cerveja num copo americano e Papai Noel esvaziou-o num gole longo e sedento. Depois, estalou a língua e serviu-se novamente, olhando com certa delícia a cor que enchia o copo. Entornou a bebida com afoiteza e então provou o croquete.
“Orra, meu! Que croquete ruim, esse! Fizeram com quê?”
“Carne moída.” – respondeu o dono do bar, a educação possível.
“Carne moída?” – o Papai Noel levantou a voz – “Só se for carne moída de urubu!...” – exclamou, logo depois de esvaziar o terceiro copo de cerveja.
“Olha, o senhor respeite aí o meu bar, seu Papai Noel...” – pediu o proprietário, a voz dura, enquanto os demais fregueses se acobertavam num silêncio tenso.
“Papai Noel, o cacete! Tou na minha folga, palhaço. E tu que me respeite, se não a coisa vai enfeiar pra ti!..” – o outro gritou, batendo a mão no balcão e esparramando cerveja.
“Calma aí, parceiro! No Natal tu manda, mas aqui no meu bar mando eu...”
“Manda o escambau!” – respondeu Papai Noel, enquanto já tentava alcançar, meio desequilibrado, um soco no queixo do dono do boteco.
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A confusão só acalmou com a chegada dos brigadianos, minutos mais tarde. Umas garrafas quebradas, duas cadeiras no chão, cerveja espalhada no piso, o croquete ainda inocentemente deitado no pires – nada muito grave.
Quando já os policiais levavam o Papai Noel para o camburão (a touca rasgada, a barba de algodão arrancada pela metade), ele pareceu lembrar-se de algo e pediu só um instantinho. Os brigadianos relaxaram a pegada e ele virou-se para dentro do bar, erguendo os braços.
“Feliz Natal, gente! Paz e alegria para todos! Hohoho!”
Depois, manso, entrou no camburão.
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