PAIXÃO DE CARNAVAL
Ela, de colombina; ele, de pierrô.
O baile no clube era qualquer coisa de animação tranquila, foliões percorrendo o salão em sambas, marchinhas e lança-perfume, entoando um canto que compensava a falta de afinação com um excesso bom de alegria. Confete e serpentina enchendo de cor o ar, casais nas pistas e nas mesas, famílias inteiras, o conjunto tocando em marcas de suor, os dedos erguidos ao alto por quem não sabia dançar.
Colombina e pierrô dançavam sem compromisso, cantando alalaô ao longo da noite, quando se viram.
E naquela hora, todo o resto do baile deixou de existir.
Olharam-se e, em seus corações imediatos da adolescência, o salão do clube ficou vazio, sumiram os amigos e parentes, as famílias nas mesas ao redor, o voo da serpentina parou no ar, a música começou a tocar só para eles dois - colombina e pierrô.
Com a ousadia recém descoberta de seus dezessete anos, ele a enlaçou num passo de dança que abria caminhos no clube e na vida, sem dizer nada, sorriso maior que o mundo. E ela deixou-se enlaçar com a mesma ousadia dele, pronta para atravessar a noite sob o calor suado e nervoso daquele braço que recém começava a abraçá-la.
Dançaram a noite inteira sem desgrudar-se, até que a banda parou de tocar e descobriram, ambos ao mesmo tempo e com o mesmo sorriso, que o salão já estava verdadeiramente vazio.
Ele a levou até em casa, descobrindo caminhos, e foi só naquela hora que souberam os nomes um do outro. Quando chegaram ao portão, os raios de sol pareceram reinstalar nele a timidez de sempre, mas foi nesta hora que a ousadia da colombina permaneceu como devia, e ela beijou aquela boca subitamente assustada no tempo que julgou necessário. Lindo, tão lindo.
Quando terminou o beijo, ela disse:
“A gente se vê mais tarde.”
“Claro!” – ele respondeu, tonto e maravilhado.
E foram os dois embora para suas casas, corações aos pulos batendo felicidade, felicidade, felicidade.
****
Há quarenta anos, este baile. Desde então, estão juntos.
E hoje, enquanto observa a mulher vestir a fantasia de colombina na neta, ele lembra ainda outra vez daquele baile e sorri: quem disse que as paixões de carnaval precisam ser passageiras?
Outros Contos
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