SINAL VERMELHO
Saulo ainda tentou ultrapassar o sinal em meio ao amarelo, mas o movimento da rua não o deixou. Outro tempo perdido na correria da cidade, pensou ele, antes de perceber o menininho de sete, oito anos que se acercava do vidro fechado de seu carro. Quando o moleque bateu com o nó dos dedinhos mínimos na janela do automóvel, Saulo quase se assustou. Depois baixou o vidro e o menino de pouca infância não se deu ao trabalho de sorrir enquanto lhe pedia uma moeda.
“Tem uma moeda aí, tio?”
Saulo costumava guardar umas moedinhas no console do automóvel e certamente deveria haver alguma por ali.
“Tenho. Espera só um pouquinho.”
E começou a procurar algum níquel entre os papéis, chaves, balas, clipes (por que clipes, Saulo?), o par de luvas, a caixa de óculos – mas nada.
“Espera que eu vou achar.” – disse ele ao menino, que aguardava olhando a cena com certa curiosidade infantil. – “É que eu sou muito desorganizado. Tu não é desorganizado também?” – perguntou ao garoto, mais para dizer alguma coisa enquanto procurava.
“Desorganizado? O que que é isso?” – questionou o pequeno.
“Desorganizado é, vamos ver... esculhambado. Isso! Eu sou muito esculhambado! Olha só quanta tralha tem aqui! – e apontou para o console – “E tu?” – ele renovou a pergunta.
O menino agora ria.
“Esculhambado eu sei o que é!...” – depois ficou sério. – “Mas eu não sou, não. Meu irmão é, eu não sou.”
“Tu é organizado, então?” – e Saulo riu ao pequeno.
“Isso, tio. Eu sou organizado.” – respondeu o menino, decerto orgulhoso da palavra nova, enquanto Saulo finalmente encontrava a procurada moeda.
“Taí.” – e estendeu o dinheiro ao garoto.
“Ô, tio!... Nem precisava!...”
“Como, assim?” – Saulo se surpreendeu – “Mas tu não tinha me pedido uma moeda?”
“Tinha, mas é que o senhor já conversou tanto comigo...”
E completou, rindo para a moeda que recém havia recebido.
“Agora eu tou no lucro."
Outros Contos
|