A PERGUNTA A NÃO SER FEITA
Foi na metade do ano passado. Genaro sonhou que morria ao mesmo tempo de várias formas e acordou empapado num suor frio e mau, afogando-se nos lençóis e perguntando a si mesmo de que modo afinal iria morrer.
Desde aquela manhã triste, passou a ser esta a sua preocupação maior: saber de que modo morreria. Não adiantou a esposa tentar livrá-lo deste desatino que começou a consumi-lo já naquela mesma manhã, explicando – como se fosse necessário – que as pessoas em geral não têm a menor idéia de como serão suas mortes, e que esta ignorância, mais do que não fazer qualquer mal, faz bem às vidas das gentes. Genaro não quis escutar qualquer explicação; talvez eu não seja uma pessoa comum, respondeu, e preciso saber como vou morrer.
E então começou a agonia.
Antes de atravessar a rua deserta, o pensamento súbito: se um carro aparecesse de repente e em alta velocidade, então estava escrito que morreria atropelado. E aí permanecia no mesmo lado da rua, descorajoso, o coração aos pulos numa angústia sem nome ou fim, esperando pelo automóvel que nunca aparecia. Se precisasse viajar, entrava no túnel do avião como se este fosse um caminho breve ao cadafalso, e passava a viagem inteira aos sobressaltos e pequenos pânicos, porque talvez a sua morte fosse a tristeza desabada de um desastre aéreo. E os engulhos no estômago a cada nova noite, pensando na possibilidade de simplesmente não acordar e morrer sem saber como havia morrido.
Muita, a angústia. A angústia de não saber como seria a própria morte.
Era tanto o sofrimento, a acompanhá-lo na frieza de todos os dias, que Genaro resolveu procurar uma vidente. Se descobrisse a resposta, talvez sua vida daí em diante melhorasse – quem sabe?
A mulher escutou as histórias e as angústias daquele homem que torcia as mãos e parecia não respirar enquanto falava, e talvez estivesse pronto a engasgar-se nas palavras que dizia. Não disse nada, até que Genaro pediu-lhe que respondesse diretamente, sem rodeios, de que forma ele morreria.
“De ansiedade. Só de ansiedade.” – falou a vidente.
Genaro ficou um instante sem entender nada. Só entendeu quando começou a sentir aquele formigamento estranho e repentino no peito.
Outros Contos
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