INDENTIDADE
“O senhor me alcance sua carteira de indentidade, por favor.”
“I-dentidade.”
“Isso. Sua indentidade, por favor.”
“Não, não é indentidade. É i-dentidade, sem o ´n´ depois do ´i.”
“Sim, sim. Mas tanto faz, é só uma letra. Não muda nada.”
“Muda, sim. Muda do certo para o errado. Ou seja: muda muito.”
“Mas ninguém nem dá bola para isso.”
“Dá, sim! Eu dou! E todo mundo pode fazer um esforçozinho para falar certo.”
“Mas se é só uma letra!...”
“Então, vamos lá. Como é mesmo o seu nome?”
“Márcio.”
“Pois é, Márcio. A partir de agora eu vou chamá-lo de Márcia. Tudo bem?”
“Não, mas aí o senhor tá de gozação comigo. Uma coisa é uma letrinha só, outra é o senhor mudar o sexo da pessoa.”
“Mas eu não vou fazer isso. Não vou chamá-lo de ´dona´ Márcia. Vou chamá-lo de ´seu´ Márcia. O Márcia, e não a Márcia, entendeu? Só uma letrinha de diferença, nada mais. E se é só uma letrinha, não tem porque dar bola para isso, não é? Como quando se fala indentidade...”
“Tá bom, tá bom. O senhor está certo. Vamos falar certo, então. I-dentidade, que seje...”
“Que seja.”
“Como é?”
“Que sej-a. A palavra é com ´a´, no final.”
“Ah, tanto faz. É só uma letra!..”
Outros Contos
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