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A PROFESSORA
Quando decidiu ser professora, contou logo a notícia aos pais. Eles receberam a decisão da filha, firme e tranquila em sua adolescência, com certa mistura de alegria e preocupação. Preocupação, porque a filha escolhia uma profissão tão pouco valorizada; alegria, porque era uma das profissões de maior valor.
Mas ela sabia, desde então, que não era apenas profissão; era mais que isso. E também não era apenas estas palavras de ordem – vocação, missão, algo assim como sacerdócio – que tentam explicar por inteiro, mas, gastas que estão, só dizem a metade. Era, sim, profissão, mas era também algo maior, uma palavra de significado a ser descoberto pelo caminho.
Noites e dias cheios, dias e noites em claro, xícaras de café e livros abertos atravessando a madrugada – mas não, não, sacrifício também não era a palavra. Afinal, quem se sacrifica quando faz o que ama?
E nestas noites e dias, entre dúvidas e certezas, um pouco sem saber e outro tanto já sabendo, ela foi aprendendo e ensinando, ensinando e aprendendo. E nas vezes que aprendia, ensinava; quando ensinava, também aprendia. Difícil, mas tão fácil – prazer em aprender, prazer em ensinar.
Mas prazer, da mesma forma que sacrifício e todas as outras, também não era a palavra. A palavra a definir este caminho precisaria ser mais densa, mais profunda. Mais completa.
Qual a palavra?
Nestes anos todos, abraçada à profissão que a abraçou, tantas palavras apareceram para dizer a ela mesma o que é ser professora. Todas insuficientes.
E hoje, quando entra nesta escola que é tão sua casa quanto a sua casa, ela pensa nestas palavras todas – profissão, vocação, sacerdócio, sacrifício, missão, caminho, prazer, aprendizado, ensinamento, preocupação, alegria – e pensa que ser professora talvez seja um conjunto de todas elas. E muito mais.
Talvez uma palavra tivesse que ser inventada. Para, no dia seguinte, já estar incompleta.
Porque a professora, ah, a professora se reinventa todos os dias.
A palavra, então, que a acompanhe...
Outros Contos
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